sábado, 10 de outubro de 2009

DAS HORAS CERTAS DE COLHEITA À IMORTALIDADE DA ALMA


"O fim que é princípio fala de um caminho que sempre se dá, um caminho circular. Caminho que tem como causa o Sol; genitor das horas certas de colheita, do percurso circular que caracteriza um ano e dos momentos favoráveis. Se antes vivia-se em acordo com sombras, neste outro lugar vive-se em acordo com momentos propícios de tempos em tempos.

Pois o lugar visível não é alcançado depois de se subir ao pico da mais alta montanha. Esse lugar não é separado ou distante de onde estão as sombras; pois separado e distante são características próprias dessa primeira maneira de compreender e viver. O outro lugar, está e não está em tudo ao mesmo tempo; está como possibilidade e não está enquanto sempre deve ser alcançado. Quando se deixa a casa nas sombras para morar junto ao Sol, quando empreende-se essa mudança, tornamo-nos felizes. Então felicidade relaciona-se com a totalidade da vida.

A mudança, que acontece de repente, deixando aquele que muda confuso, demanda certo tempo para tornar-se caráter; para que o que se vê seja um com o que se é, isto é, como se age.

Prisioneiros não são capazes de distinguir corretamente as sombras, se sempre foram prisioneiros. Se sempre tiveram a mesma morada, sempre contemplaram a mesma vista. Quando muda a morada e a vista, muda o hábito. Ao mesmo tempo. Lembranças da vida cotidiana na caverna, a famosa, de Platão.

Tal viajante que vem de cima causaria riso nos prisioneiros. E se tentasse ele libertar e elevar outros prisioneiros, esses quereriam, na medida de suas propriedades, matá-lo.
Se o Mito de Er falar realmente da totalidade da vida, do fim da vida, a narrativa da caverna diz-nos sobre a totalidade do conhecimento, do fim dele. E vida e pensamento não serão dois: a totalidade estará sempre ligada ao bem. É preciso bem agir, e é a visão dessa forma que torna boa a ação do homem. É preciso vê-la para que se aja cuidadosamente, aquil lá, acolá, longe de espectadores, perto deles, na casa, nos lugares públicos.

Não basta o cuidar; essa excelência divina em nenhum tempo perde sua propriedade, razão por que se deve cuidar das coisas certas. Os sábios possuem a propriedade de cuidar de males. Eles têm a vista voltada para baixo, somente para o que vem e vai. Não basta poder cuidar. É preciso que se olhe para a direção correta, que se cuide do que se deve cuidar: da vida enquanto totalidade. Em olhando para cima.

Já a visão do lugar acima é semelhante ao caminho para cima da alma. A esperança de Sócrates é a de que assim compreenderá quem escuta. Pois para ele, “sendo manifesto isso que se manifesta para mim, é a maneira de ser do bem que se encontra no fim do conhecimento”.
Adaptação de texto de "Da relação entre imortalidade da alma, eternidade e vida",
de Lethicia Ouro, em tese de mestrado.

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